A cada momento e num ritmo lento
FILIPE FARIA \DIRECTOR \ FESTIVAL FORA DO LUGAR \ ARTE DAS MUSAS
A cada momento e num ritmo lento
Esta é a porta número oito e está aberta. Avançamos, passamos a porta e... entramos. Sentimos o vento no rosto, o frio na testa e o corpo quente. Estamos em vários lugares ao mesmo tempo, em todos os lugares. Estes são lugares vivos nos quais tudo mexe ou tudo pára à nossa medida, adivinhando o que queremos muito antes de o sabermos. A cada momento vamos descobrindo novos e antigos lugares mas também o nosso lugar neles. A cada momento e num ritmo lento, com uma irreconhecível cadência... lenta e estável. Sons espontâneos vindos de todo o lado mas silêncios esperados também. Paisagens de som românticas mas de um romantismo traído, tremendamente comovedor. Traído pela noção esmagadora de que é tudo tão real, tão palpável, tão só para nós... um romantismo traído pela realidade, pela saudade indescritível do que mal conhecemos. A convicção absoluta de que tudo aquilo é exclusivamente nosso, preparado com todo o tempo só para nós. A absoluta certeza de que só nós vimos aquela luz, sentimos aqueles pingos na face, ouvimos aquele vento ou aquele trovão ou aquele canto feminino ou aquele toque da pele quente na pele que vibra ou aquele fruto maduro nas nossas mãos ou aquela vontade de o provar. A realidade impõe-se, vinda de cima, debaixo, dos lados, de dimensões diferentes com uma urgência pungente, obrigatória, inevitável... Entrámos agora mesmo... passaram apenas uns segundos... e são todos bem vindos... A porta número 8 está aberta e todos podem entrar.